Na mansão a esposa, uma arquiteta que não mais trabalha, conversa preocupada com seu marido, engenheiro formado e CEO de umas das maiores multinacionais do mundo:
– Estou preocupada com a Mari, há algumas semanas ela mudou o comportamento ainda mais. Hoje não consegui fazer com que ela saísse da cama para ir ao colégio e o fim de semana, como você deve ter percebido, ficou trancada no quarto.
– Pensei que ela não estivesse em casa, achei que estava com alguma amiga.
– Mas não estava. Ficou aqui e não quis falar comigo, nem com as amigas.
– Deve ser essas crises de adolescente, você sabe, 17 anos, provavelmente tomou o fora de algum namoradinho vagabundo e agora está aí choramingando pelos cantos.
– Não acha melhor marcarmos uma consulta e tentarmos levar ela para um psicólogo, tenho medo que seja depressão, temos visto tanto isso ultimamente.
– Espera um pouco, você vai ver que em um ou dois dias ela vai estar toda feliz de novo, é só esquecer esse pilantra que deve ter a iludido.
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No apartamento comum, situado bem no centro da cidade grande do interior, o pai, um chefe de seção do supermercado mais famosos da cidade conversa com a segunda esposa, desempregada no momento:
– A Mãe do Dani tem me ligado todo dia para reclamar dele. Diz que ele tem estado estranho, triste, “respondão” como nunca foi, reclama de cansaço, largou a namorada, perdeu o emprego e fica fora de casa o dia todo.
– Não dá atenção para aquela infeliz. Ela não está preocupada com seu filho não, está só arrumando desculpa para ficar falando com você. E não sei não se você não está se fazendo de bobo para ficar dando trela.
– Você está ficando louca mulher! Eu estou preocupado com meu filho. Tenho ouvido falar em todo lugar sobre depressão e acho que é perigoso.
– Que depressão que nada. Um menino de 17 anos, forte saudável, vai ter depressão porquê? Isso é frescura dele no máximo, mas ainda acho que é golpe daquela sua ex.
– Sei lá, acho que vou falar pra ela procurar um psicólogo pro menino, melhor prevenir né.
-Ah, você não vai ligar pra ela não! Se eu pegar seu celular e ver, a briga vai ser feia, para de tentar me enrolar!
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Na casa humilde, pequena, na zona mais pobre da cidade grande, a mãe, diarista, mas trabalhando apenas um dia na semana, cercada por outros 5 filhos, conversa com sua filha mais velha:
– Filha, não fique assim, você vai arrumar um trabalho e eu vou arrumar outros, as coisas vão melhorar, não precisa chorar, come um pedaço de pão, tem um pouco para todo mundo.
– Mas mãe, eu nem sei direito porque estou tão triste, não me sinto bem, mas não sei se sinto alguma dor, só estou triste.
– É essa situação, já aconteceu antes, quando o pai do Léo foi embora e levou o pouco que tínhamos, mas vai passar, minha patroa disse que vai ver se conhece alguma amiga que esteja precisando de uma diarista.
– Tá bom Mãe, só me deixa sozinha, me deixa em paz, queria só ficar longe de tudo, desses moleques chatos, dessa casa.
– Filha, minha patroa disse que a filha dela estava com uma tal de depressão, que descobriu e que levou em um Doutor, que não lembro o nome, e que agora está tomando remédio, será que não é isso que você tem? Vamos no posto ver.
– Não mãe, isso é doença de rico, gente fresca, a gente nem pode ter isso, senão morre….
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Na noite seguinte, em 3 lugares diferentes 3 corpos de jovens foram encontrados.
A única diferença entre eles será o tipo de caixão e o cemitério em que os corpos serão enterrados.
A dor será a mesma e a culpa é da ignorância e dos ignorantes que mesmo com todas as evidências, estudos e notícias, ainda não acreditam na depressão.